domingo, 11 de abril de 2010

V de Vingança


A Relógio D'Água é uma editora muito boa, o que diz bem do que acho do trabalho do seu editor, Francisco Vale. E facto de me ter oferecido algumas palavras menos nobres em nada altera o meu juízo. Foi aqui.

Mas julgo importante dizer algo sobre um ou dois pontos desse post. Porque, o essencial sobre Um Toldo Vermelho está escrito na LER.

E nesse post julgo estar deduzido algo que não refiro na LER. Nomeadamente o "ressentimento" e "desejo de vingança" em relação aos autores ditos "sem qualidades". Saberá Francisco Vale que a vingança implica uma acto anterior sobre que vingar. E eu nada tenho contra esses autores que me traga qualquer ressentimento nem o desejo de repor qualquer injustiça. No fundo, nunca me fizeram nada de mal. Porque estaria eu ressentido ou ávido de vingança? Como se perceberá no texto, até os considero, e bem. Não sei de onde se depreende o contrário. Falar de genealogias literárias magoa alguém, dá a entender algum desejo de vingança? Mas haverá alguém - tirando Joaquim Manuel Magalhães, pelos vistos (com quem, já o disse publicamente, sempre tive uma relação cordial, se bem que unicamente via email; nada me move - nada, repito - contra a pessoa JMM; nem contra a sua poesia: apenas acho o livro mau e que ele não foi ao fundo na sua ruptura ao não considerar a ediçao ne varietur) - mas haverá alguém, dizia, que escreva sozinho, sem leituras, paternidades ou outros graus de parentesco? Acho que não.

Sobre o circo: António Guerreiro deu-me razão com o seu texto no Expresso. E já o expliquei aqui. Ou achar-se-á habitual considerar brilhante (são cinco estrelas, e se António Guerreiro quisesse não as colocava, que o Expresso não deve ter uma espada sobre a sua cabeça para que as coloque) um livro "sem sentido" (palavra que na sua duplicidade de leituras é bem pretensiosa na interpretação da obra) só porque descobre uma (má) forma de escrever poemas? Joaquim Manuel Magalhães nunca foi nem experimentalista nem concretista. É agora. Guerreiro nunca considerou minimamente essa poesia. Considera-a agora, não sem que antes a ligue àquela que sempre considerou com o contorcionismo crítico que tento explicar aqui.

Termino agradecendo o qualificativo com que Francisco Vale mima os "Poemas Portugueses": a antologia mais "bem comportada de poesia portuguesa". Sei-o pejorativo para Vale. Saiba-o ele elogioso para o trabalho tanto meu como do Rui Lage que, como lá dizemos, a quisemos exactamente o mais didáctica possível (sem com isso retirar outros critérios de que falamos na introdução). E na escola temos todos falta a vermelho se nos comportamos mal.

PS: Não sigam a referência ao filme, que de bom só tem a Natalie Portman. Leiam antes o novo livro do Miguel-Manso, muito bom. António Guerreiro faz-lhe uma boa crítica no Expresso de hoje. E eu, vejam bem, concordo com ele: temos poeta.