terça-feira, 29 de junho de 2010

O Treinador de Escritório

O que mais me irrita em ter perdido o jogo é aquela coisa ter ficado mesmo mesmo quase lá. E que ainda para mais não se possa dizer que a culpa foi inteirinha para o treinador. É que ele montou a equipa ideal, com o Hugo Almeida e tudo. Sim senhor, professor Queiroz. Só que o nosso treinador não é de campo. Deveria ser, como eu sou de bancada. Não - ele é treinador de escritório.


Só por isso se pode entender a substituição que nos fez perder o jogo. E eu disse-o, até há quatro testemunhas disso mesmo: ele ao tirar o Hugo Almeida e derivar o Ronaldo para o meio tirou o nosso primeiro defesa, que ainda para mais estava a comer a relva. Mas é como o nosso treinador de escritório disse na flash interview: "era o nosso plano de jogo". E com Queiroz sempre foi assim: o plano de jogo, feito todinho no escritório, é para cumprir até ao fim. Mesmo que para isso se tire um dos jogadores que mais estavam a lutar, a ambicionar, a jogar. Cumpriu-se. E faltou-se cumprir Portugal.


PS: se alguém tiver alguma paciência (que não existe quem tenha), é ver nos jogos do professor como as substituições são sempre à hora certa: 50 minutos, 60, 70, 75, etc e tal. É matemático. Falha é como o caraças, que o futebol não se rege por essas regras.

sábado, 26 de junho de 2010

E agora, Esperança.

Ainda não li nem o P2, nem o Actual, nem a NS, nem sei o que vai vir na LER deste mês. Decerto o que vou dizer já outros o disseram e melhor. Mas acho importante dizê-lo.


Aquilo que Saramago mais deixou foi Esperança. O que para um ateu tão convicto é paradoxal. Mas verdadeiro. José Saramago teve alguns começos interrompidos da carreira de escritor. Começou em 1947, aos 25 anos, com um livro que se deveria ter chamado "A Viúva" e que se chamou "Terra do Pecado". Escreveu e editou poesia, com dois brilhantes títulos mas com poucos brilhantes poemas: "Provavelmente Alegria" e "Os Poemas Possíveis". Foi jornalista, escreveu por isso muitos textos de opinião. Mas só começou verdadeiramente a carreira de escritor em 1980 com "Levantado do Chão" ("Manual da Pintura e Caligrafia" serviu de antecipação, se quisermos). Quero com isto dizer que, aquele que a NS títula na capa como "o Nobel mais popular do mundo", começou a sua carreira com 58 anos. Só nos últimos dez anos, Elfriede Jelinek, Pamuk e Herta Müller viram ser-lhes atribuído o Nobel com, respectivamente, 58, 54 e 51 anos. Para não falar de Faulkner e Camus, galardoados aos 52 e 44 anos, respectivamente. Saramago começou a publicar livros a sério com mais anos do que muitos viram o prémio em questão.


Por isso falo de Esperança, assim, em maiúscula. É possível construir uma carreira de escritor, instituir uma literatura, sem ter começado aos 20 ou 30 anos a editar grandes livros. É certo que a percentagem de escritores que começou a publicar grandes livros com essa idade é bem maior do a que se iniciou com mais que 50 anos. Mas o que vale é que a percentagem, a média, e outras grandes referências estatísticas valem sempre o que valem: quase nada. (Um amigo contou-me que a média é muito gira: se ele tiver dois frangos e eu zero a média é um mas eu fico com fome.)


Eu comecei cedo - cedo demais - a publicar livros. Tinha 22 anos. Vale-me que os meus primeiros livros eram tão maus que ainda posso ter a esperança (assim, em minúscula, que a do Saramago é para aqueles que querem mesmo a carreira) de ter várias carreiras interrompidas.

sábado, 19 de junho de 2010

E agora, José

Várias razões me não têm permitido ser mais assíduo na colocação de posts. Ao ponto de o que dizia respeito à selecção ter perdido actualidade sem outro que o completasse. Completo agora: gostei do que disse Deco e muito do que disse ontem Queiroz. Podemos vir na mesma para casa, mas pelo menos vimos, digamos, normalmente. Ao contrário da França, por exemplo.


Mas Saramago. O reconhecimento foi em vida. Os livros foram lidos em vida. Foram publicados em mais do que muitas línguas em vida. Ontem o Público dizia online dos prémios: contei quarenta doutoramentos honoris causa, ao mesmo tempo que o ouvia na televisão numa entrevista antiga dizer que se Cavaco é doutorado honoris causa em Literatura pela Universidade de Goa, ele pode vir a ser em Medicina e fica tudo certo. Para comparar basta saber quem era Saramago no mundo e quem é Cavaco ou outra figura portuguesa. Saramago, Amália, Eusébio (se quisermos ser simpáticos...) e nada mais, convenhamos.


Mas e agora? Agora Soares mais uma vez cheio de razão: Saramago merece o Panteão Nacional. As suas cinzas ficam em Portugal, mudou de opinião depois de ter declarado publicamente que as queria junto a uma árvore em Lanzarote. Fez portanto as pazes com o país que o obrigou a ir embora. É altura de Portugal fazer as pazes com ele.


Saramago era uma pessoa de ódios e de amores. Não foi santo nenhum, como se viu no PREC. Mas isso não invalida que seja, só, o escritor português mais conhecido no mundo. Vivo ou morto, para que não restem dúvida. Como ele, nenhum. E o Panteão não deve ter santos - esses ficam nas igrejas. O Panteão deve ter isso sim aqueles que souberam fazer de Portugal mais do que o rectângulo plantado no extremo ocidental da Europa. Saramago soube porque sabia escrever como muito poucos. Uma lição.

Ao seu comunismo militante e às vezes tão incoerente; à sua personalidade que se poderia considerar vaidosa - mas com razões para tal - digo nada. Interessa-me verdadeiramente a Obra. E essa, quer se queira quer não, é das maiores de sempre em língua portuguesa.
E agora, José? Agora ler.

Fará falta.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Três jogos e tudo para casa

É por isto que toda a gente vem fazer companhia ao Nani depois do jogo com o Brasil:

O jogador do Chelsea reprova a actuação de Portugal. O médio lamentou que a selecção não tenha feito as coisas bem, assim como o seu posicionamento em campo.No dia em que cumpriu a 75.ª internacionalização, o jogador luso-brasileiro disse que “apostar no jogo directo não é a melhor solução”, criticando a forma com a formação das “quinas” actuou, sobretudo na segunda parte. “O erro foi querer ganhar em 45 minutos. Isso criou-nos ansiedade e até podíamos ter perdido”, disse Deco, acrescentando: “Não entrámos bem no segundo tempo. A maneira de abordar o jogo depois do intervalo não foi a correcta”. Em campo até aos 62 minutos, altura em que foi substituído por Tiago, também criticou a posição em que o colocaram a jogar. “Por que fui substituído? tem de perguntar ao treinador. Sentia-me bem”, frisou Deco, lamentando: “Primeiro pediu-me para abrir na direita, coisa que nunca fiz na minha carreira, pois não sou extremo, e depois tirou-me”. Deco prosseguiu: “Não fico chateado por sair, entendo é que não é assim que conseguimos resultados. Foi o meu 75.º jogo na selecção, mas, para mim, o mais importante é vencer e isso não aconteceu. Por isso, não saio satisfeito”. Apesar de tudo, o médio luso, que já representou Portugal nos Europeus de 2004 e 2008 e no Mundial de 2006, é da opinião que o apuramento continua a ser possível. “Está tudo em aberto, na certeza de que temos de ganhar o segundo jogo”, avançou Deco, já com pensamento no embate de segunda-feira com a Coreia do Norte, que hoje se estreia face ao pentacampeão mundial Brasil.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Ellen

Há a Oprah, há a Tyra, há mais que as mães. E há a Ellen.
É que a Ellen leva a coisa a um limite como nunca vi. Certo: tem graça no monólogo de entrada porque aproveita o facto de ser actriz e comediante para que o início seja interessante. Mas depois dança, meu Deus, dança. Vai para o meio de um público que é muito melhor (pior) do que o das outras moçoilas no que aos gritos histéricos diz respeito e dança. E depois faz coisas interessantíssimas: product placement como nunca vi. Não há um único programa em que não ofereça às histéricas todas alguma coisa. E elas gritam como trengas porque vão levar um cd ou um dvd para casa. Depois mete uma mulher com graves dificuldades financeiras num cilindro onde as notas voam e ela as tem de apanhar. Coisas mesmo elegantes. Eu adoro a Ellen. Acho que é espectacular o seu programa. Leva os talk shows das talkshowhostas com um nome só a um nível de profundidade como eu nunca vi. E eu vi a Oprah a dançar em Chicago com os Black Eyed Peas, eu vi.