sábado, 27 de fevereiro de 2010

Rio Sabor


Quem me conhece sabe do meu desinteresse pelas coisas que obrigam a levantar às seis da manhã para que façamos caminhadas saudáveis. Tentei, juro que tentei, tal coisa na faculdade e, além de ter perdido uns calções de estimação, quase me afogava num riacho qualquer a dar uma de canoista (daí a perda dos calções, daqueles compridos, ficados e para sempre a secar ao sol).

Some-se a isto a catástrofe que a metereologia tem trazido e perceber-se-á que o que vou dizer de seguida pode até ter algum sentido.

Acho que o Homem é um predador. Que encontrou uma maneira interessante de sobreviver como espécie - a tecnologia - que permite que as condições de vida dos seus espécimens sejam bem mais interessantes do que as dos outros predadores. Conforto, portanto. Preguiça. Estar sentado num puff a escrever um post num blogue enquanto vejo a nova temporada do Project Runway, depois de um banho bem quente e vestido de um pijama aconchegante. E que tudo isto não traz nada de mal. Nada. Ou o que traz, compensa. Pois, estamos a estragar o Ambiente, a Terra, os outros animais. Que pena. Nenhuma. A Vida é assim, e já antes os dinossauros estragaram muita coisa e nem cozinhavam antes.

Ou as glaciações; ou a deriva dos continentes no Pérmico que fez com que 95% da vida da Terra desaparecesse à 220 milhões de anos. Ou o cometa que aterrou com estrondo no Golfo do México há 65 milhões de anos e terminou com o apetite tártaro do T-Rex.

Mas posto isto, também não acho que seja preciso ser mauzinho. Parece que há um único rio na península Ibérica que ainda não teve estragos de maior às nossas mãos. E que ainda para mais se chama Sabor. E se o deixassem "sugadinho"? É mesmo preciso o raio da barragem? Não seria de fazer mais uma noutro já devidamente estragado e deixar este a correr como sempre correu?

Não que isto seja assim tão importante, convenhamos. Daqui a umas décadas a adolescência tecnológica terminará como terminam muitas: com uma passagem para a idade adulta devidamente marcada por esse período de borbulhas e camisas estampadas, muita coisa para tratar no psicanalista. Quero com isto dizer que não, que não vamos desaparecer. Que não, que a Terra não vai acabar. Só vamos é deixar de ser 6 biliões para sermos uns milhares ou poucos milhões em bolsas de sobreviventes. E que a Terra, essa, rir-se-á de nós tornando os rios entretanto barrados em novos e magníficos paraísos de selvajaria ou, digamos assim, natureza secundária e novamente virgem.

Até lá, deixem o Sabor em paz; divirtam-se mas não sejam mauzinhos, por favor.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Maria Taylor

Só tenho pena de uma coisa: que o Michael Stipe cante tão pouco no single de um álbum que primeiro se estranha e que depois se entranha; e que tenha deixado que assassinassem a Everybody Hurts, mesmo que o produto da autópsia seja a favor do Haiti. Bem, são duas coisas. Mas que podiam ter escolhido outra música para homicidiar, podiam. Aquela é do Automatic for the People. Aquela tem perto a Nightswimming. Aquela tem perto a Drive. Aquela tem perto a Try Not to Breath. Aquela tem perto a Find the River. Aquela tem o Michael Stipe em cima dos carros como o Michael Douglas naquele filme que primeiro se estranha e depois se entranha (Falling Down, 1993; ou Um Dia de Raiva em português, acho). Fiquem com o videoclip de Cartoons and Forever Plants, álbum Lady Luck, Maria Taylor ou a ex-namorada do Connor Oberst.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Perry Blake

Celebrando o seu concerto em Santa Maria da Feira, dia 26, e a nova exposição de Paulo Brody, desta vez em Ventspils, fica aqui Folks Don't Know.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Todos os Dias



Escrevi o romance entre 2002 e 2004. Saiu na Dom Quixote, pela mão do João Rodrigues, faz agora exactamente quatro anos. A capa, do Atelier Henrique Cayatte com a Rita Múrias, tinha uma fotografia de Stuart Staples, o vocalista dos Tindersticks. Foi apresentado na Casa das Artes de Famalicão pelo António José Teixeira.

Escrevi-o como se de um projecto de arquitectura se tratasse. Cada voz sabia o tinha de dizer e como dizê-lo. Sentava-me, abria o ficheiro, colocava a banda sonora inicial. Esta que podem ver e ouvir em cima.

Todos os dias acordo com o Manel deixando o André à guarda da minha Lucinda.

É certo que depois o Manel ficou Fernando, o André, Rafael e a Lucinda, Justina. Mas já existiam todos na primeira frase, escrita também em Fevereiro, mas de 2002. Há oito anos. Time flies, se não for mais é o título de um álbum dos Vaya con Dios.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Rosa


Tenho a certeza que o meu melhor professor, Jorge Macedo Rocha, não se importará que aqui cite um poema - sim, professor, é um lindíssimo poema - que escreveu para o livro A Minha Palavra Favorita e que organizei há alguns anos. Tinha por este senhora um carinho muito especial. Sempre encantadora, profissionalíssima nos projectos que fizemos juntos (um romance escrito em tempo recorde para ser oferecido com a Sábado, depois editado para a livraria; duas adaptações maravilhosas para os Clássicos da Literatura Portuguesa Contados às Crianças do semanário Sol), belíssima de alma e olhar, querida de se querer. Fará falta.


Rosa era o nome da minha avó. Branca Rosa. Ainda hoje ouço a sua voz atravessar o quintal para me cobrir com alegria e infância; e sinto o seu olhar tranquilo, cheio de bondade e força, que desaguou inteiro no sorriso da minha mãe. É verdade: o importante é a Rosa. A Rosa é que é importante.


Hoje, professor, permita-me que esta Rosa tenha mais dois nomes: Lobato de Faria.