domingo, 4 de abril de 2010

O Circo Chen Chegou à Cidade!

Este é o parágrafo final do meu texto sobre Um Toldo Vermelho, publicado na LER deste mês e com o título Um Toldo às Escuras:

Estamos aqui na análise relativa de um texto, principalmente no que concerne ao outro JMM [Joaquim Manuel Magalhães] deixado à porta deste novo toldo, que já não parece servir a entrada de um café. A análise absoluta e devidamente encartada será feita por alguns críticos de hebdomadários - coisa que não sou, nem quero ser - que se irão dar ao trabalho de, seguindo uma agenda própria, executar números de contorcionismo analítico dignos do circo Chen.

And the winner is...

António Guerreiro! Luís Miguel Queirós, há semanas, não teve talento para tanto. Mas esta semana, Guerreiro leva para casa a taça! Vocês, meus caros apreciadores de poesia e, como eu, visitantes do hermetismo crítico semanal de Guerreiro, conhecem crítico mais próximo da poesia anti-concreta, anti-experimental e anti-substantiva? Eu não conheço. Mas li no Actual desta semana:

A operação comporta uma dimensão afirmativa (à qual não se acede se nos deixamos obnubilar ou fascinar pelo 'escândalo', algo inevitável num primeiro momento) (...)

Tradução: só o António Guerreiro consegue ultrapassar o escândalo e ler o livro como deve ser lido; todos nós, leitores de poesia que não percebem porque razão um poeta tão bom como o Joaquim Manuel Magalhães fez isto à sua obra, somos, em poucas palavras, seres meramente fascinados.

É bárbaro e resiste com tenacidade ao discurso do sentido? Pois é, respondemos nós, anestesiados pela beleza poética que nos decora o mundo e vida, embalados pela estética vogal e da eufonia. Tão imersa no concreto, esta poesia recusa as metáforas e as imagens, extenua-se a suprimi-las já que estas são um veículo do espírito (...)

Tradução: é certo que isto que o Joaquim Manuel Magalhães fez pode parecer algo, digamos, distante da poesia dos seus epígonos (e aqui volto a dizer, como no texto da LER, que falo em epígono enquanto seguidor de uma poética e não de uma forma pejorativa). Mas se vocês lerem bem, ela é só um bocadinho concreta. Porque de resto é igual: não há beleza poética (como na desses autores, povoada pelo feio), nem metáforas e imagens (como na desses autores, dita pobre).

"Pronto, meus caros: vale cinco estrelas e no fundo é muito próxima daquilo que eu mais gosto", diz António Guerreiro, o novo seguidor de E. M. de Melo e Castro e Haroldo de Campos. Quer dizer, mais ou menos, porque estes são concretos mas são bonitinhos e muito metafóricos...