domingo, 15 de agosto de 2010

Mudança de Residência

A partir de agora aqui.
Ainda sem links e outras mariquices, mas já com a maior assiduidade que desejo.
Aqui, portanto.
Aqui.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

No Comments [como na Euronews às 4 da Matina]



[Curtíssima explicação: a moçoila é a namorada do Casillas.]

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Melancómico

Andava distraído. Agora já não ando. Ide e ide carregar no cineclube. Imperdível.



JPC no seu melhor. E Nuno Costa Santos revela-se-me.

Já agora, JPC ainda no seu melhor:

terça-feira, 29 de junho de 2010

O Treinador de Escritório

O que mais me irrita em ter perdido o jogo é aquela coisa ter ficado mesmo mesmo quase lá. E que ainda para mais não se possa dizer que a culpa foi inteirinha para o treinador. É que ele montou a equipa ideal, com o Hugo Almeida e tudo. Sim senhor, professor Queiroz. Só que o nosso treinador não é de campo. Deveria ser, como eu sou de bancada. Não - ele é treinador de escritório.


Só por isso se pode entender a substituição que nos fez perder o jogo. E eu disse-o, até há quatro testemunhas disso mesmo: ele ao tirar o Hugo Almeida e derivar o Ronaldo para o meio tirou o nosso primeiro defesa, que ainda para mais estava a comer a relva. Mas é como o nosso treinador de escritório disse na flash interview: "era o nosso plano de jogo". E com Queiroz sempre foi assim: o plano de jogo, feito todinho no escritório, é para cumprir até ao fim. Mesmo que para isso se tire um dos jogadores que mais estavam a lutar, a ambicionar, a jogar. Cumpriu-se. E faltou-se cumprir Portugal.


PS: se alguém tiver alguma paciência (que não existe quem tenha), é ver nos jogos do professor como as substituições são sempre à hora certa: 50 minutos, 60, 70, 75, etc e tal. É matemático. Falha é como o caraças, que o futebol não se rege por essas regras.

sábado, 26 de junho de 2010

E agora, Esperança.

Ainda não li nem o P2, nem o Actual, nem a NS, nem sei o que vai vir na LER deste mês. Decerto o que vou dizer já outros o disseram e melhor. Mas acho importante dizê-lo.


Aquilo que Saramago mais deixou foi Esperança. O que para um ateu tão convicto é paradoxal. Mas verdadeiro. José Saramago teve alguns começos interrompidos da carreira de escritor. Começou em 1947, aos 25 anos, com um livro que se deveria ter chamado "A Viúva" e que se chamou "Terra do Pecado". Escreveu e editou poesia, com dois brilhantes títulos mas com poucos brilhantes poemas: "Provavelmente Alegria" e "Os Poemas Possíveis". Foi jornalista, escreveu por isso muitos textos de opinião. Mas só começou verdadeiramente a carreira de escritor em 1980 com "Levantado do Chão" ("Manual da Pintura e Caligrafia" serviu de antecipação, se quisermos). Quero com isto dizer que, aquele que a NS títula na capa como "o Nobel mais popular do mundo", começou a sua carreira com 58 anos. Só nos últimos dez anos, Elfriede Jelinek, Pamuk e Herta Müller viram ser-lhes atribuído o Nobel com, respectivamente, 58, 54 e 51 anos. Para não falar de Faulkner e Camus, galardoados aos 52 e 44 anos, respectivamente. Saramago começou a publicar livros a sério com mais anos do que muitos viram o prémio em questão.


Por isso falo de Esperança, assim, em maiúscula. É possível construir uma carreira de escritor, instituir uma literatura, sem ter começado aos 20 ou 30 anos a editar grandes livros. É certo que a percentagem de escritores que começou a publicar grandes livros com essa idade é bem maior do a que se iniciou com mais que 50 anos. Mas o que vale é que a percentagem, a média, e outras grandes referências estatísticas valem sempre o que valem: quase nada. (Um amigo contou-me que a média é muito gira: se ele tiver dois frangos e eu zero a média é um mas eu fico com fome.)


Eu comecei cedo - cedo demais - a publicar livros. Tinha 22 anos. Vale-me que os meus primeiros livros eram tão maus que ainda posso ter a esperança (assim, em minúscula, que a do Saramago é para aqueles que querem mesmo a carreira) de ter várias carreiras interrompidas.

sábado, 19 de junho de 2010

E agora, José

Várias razões me não têm permitido ser mais assíduo na colocação de posts. Ao ponto de o que dizia respeito à selecção ter perdido actualidade sem outro que o completasse. Completo agora: gostei do que disse Deco e muito do que disse ontem Queiroz. Podemos vir na mesma para casa, mas pelo menos vimos, digamos, normalmente. Ao contrário da França, por exemplo.


Mas Saramago. O reconhecimento foi em vida. Os livros foram lidos em vida. Foram publicados em mais do que muitas línguas em vida. Ontem o Público dizia online dos prémios: contei quarenta doutoramentos honoris causa, ao mesmo tempo que o ouvia na televisão numa entrevista antiga dizer que se Cavaco é doutorado honoris causa em Literatura pela Universidade de Goa, ele pode vir a ser em Medicina e fica tudo certo. Para comparar basta saber quem era Saramago no mundo e quem é Cavaco ou outra figura portuguesa. Saramago, Amália, Eusébio (se quisermos ser simpáticos...) e nada mais, convenhamos.


Mas e agora? Agora Soares mais uma vez cheio de razão: Saramago merece o Panteão Nacional. As suas cinzas ficam em Portugal, mudou de opinião depois de ter declarado publicamente que as queria junto a uma árvore em Lanzarote. Fez portanto as pazes com o país que o obrigou a ir embora. É altura de Portugal fazer as pazes com ele.


Saramago era uma pessoa de ódios e de amores. Não foi santo nenhum, como se viu no PREC. Mas isso não invalida que seja, só, o escritor português mais conhecido no mundo. Vivo ou morto, para que não restem dúvida. Como ele, nenhum. E o Panteão não deve ter santos - esses ficam nas igrejas. O Panteão deve ter isso sim aqueles que souberam fazer de Portugal mais do que o rectângulo plantado no extremo ocidental da Europa. Saramago soube porque sabia escrever como muito poucos. Uma lição.

Ao seu comunismo militante e às vezes tão incoerente; à sua personalidade que se poderia considerar vaidosa - mas com razões para tal - digo nada. Interessa-me verdadeiramente a Obra. E essa, quer se queira quer não, é das maiores de sempre em língua portuguesa.
E agora, José? Agora ler.

Fará falta.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Três jogos e tudo para casa

É por isto que toda a gente vem fazer companhia ao Nani depois do jogo com o Brasil:

O jogador do Chelsea reprova a actuação de Portugal. O médio lamentou que a selecção não tenha feito as coisas bem, assim como o seu posicionamento em campo.No dia em que cumpriu a 75.ª internacionalização, o jogador luso-brasileiro disse que “apostar no jogo directo não é a melhor solução”, criticando a forma com a formação das “quinas” actuou, sobretudo na segunda parte. “O erro foi querer ganhar em 45 minutos. Isso criou-nos ansiedade e até podíamos ter perdido”, disse Deco, acrescentando: “Não entrámos bem no segundo tempo. A maneira de abordar o jogo depois do intervalo não foi a correcta”. Em campo até aos 62 minutos, altura em que foi substituído por Tiago, também criticou a posição em que o colocaram a jogar. “Por que fui substituído? tem de perguntar ao treinador. Sentia-me bem”, frisou Deco, lamentando: “Primeiro pediu-me para abrir na direita, coisa que nunca fiz na minha carreira, pois não sou extremo, e depois tirou-me”. Deco prosseguiu: “Não fico chateado por sair, entendo é que não é assim que conseguimos resultados. Foi o meu 75.º jogo na selecção, mas, para mim, o mais importante é vencer e isso não aconteceu. Por isso, não saio satisfeito”. Apesar de tudo, o médio luso, que já representou Portugal nos Europeus de 2004 e 2008 e no Mundial de 2006, é da opinião que o apuramento continua a ser possível. “Está tudo em aberto, na certeza de que temos de ganhar o segundo jogo”, avançou Deco, já com pensamento no embate de segunda-feira com a Coreia do Norte, que hoje se estreia face ao pentacampeão mundial Brasil.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Ellen

Há a Oprah, há a Tyra, há mais que as mães. E há a Ellen.
É que a Ellen leva a coisa a um limite como nunca vi. Certo: tem graça no monólogo de entrada porque aproveita o facto de ser actriz e comediante para que o início seja interessante. Mas depois dança, meu Deus, dança. Vai para o meio de um público que é muito melhor (pior) do que o das outras moçoilas no que aos gritos histéricos diz respeito e dança. E depois faz coisas interessantíssimas: product placement como nunca vi. Não há um único programa em que não ofereça às histéricas todas alguma coisa. E elas gritam como trengas porque vão levar um cd ou um dvd para casa. Depois mete uma mulher com graves dificuldades financeiras num cilindro onde as notas voam e ela as tem de apanhar. Coisas mesmo elegantes. Eu adoro a Ellen. Acho que é espectacular o seu programa. Leva os talk shows das talkshowhostas com um nome só a um nível de profundidade como eu nunca vi. E eu vi a Oprah a dançar em Chicago com os Black Eyed Peas, eu vi.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Gullar

Nestes casos costuma dizer-se "congratulo-me". É das palavras que mais detesto neste contexto. Fico contente, sim, mas não quer também dizer "parabenizo-me"? Não, não me dou os parabéns: dou-os a Gullar.
Foi uma honra ter editado a sua poesia completa nas Quasi. Honra tão grande quanto essa ter pedido à Joana Quental para ilustrar o seu "Um Gato Chamado Gatinho". Poemas breves, lindos, para gatinhos pequenos que gostassem de gatos. Gostei muito de ver a Adriana Partimpim a cantar alguns deles num Coliseu lotado.
Parabéns Ferreira Gullar pelo mais que merecido Prémio Camões. Congratulo-o.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Maria do Rosário Pedreira


Conheço a Rosário há muitos anos. O que até parece verdade se seguirmos o lema do Paulo de Carvalho do "dez anos é muito tempo". É há dez anos, isso mesmo. Sou um dos amigos que chegou até ela por outro lado que não o da edição (foi a poesia) mas que deixou - como não, se somos os dois editores? - que a edição contaminasse salutarmente a relação. É a melhor editora de literatura portuguesa em Portugal. O Todos os Dias, que continua a ser o livro que escrevi que tenho mais próximo do coração (e que temo nunca há-de deixar de ser) não seria sequer livro se não fosse ela. Mesmo que, por razões circunstanciais, até nem tenha chegado a ser ela a editá-lo - foi o João Rodrigues, que é o melhor editor de literatura portuguesa em Portugal. Ela ensinou-me muito, não conheço maior homenagem do que estas palavras. E um escritor que não quer aprender só pode ser uma merda. Talvez o seja: mas agradeço-lhe o facto de me ter ensinado o suficiente para não ser uma graaaaaaaaaaande merda. Claro está, se falho, é porque não aprendi. Como editora, não há melhor.
Tudo isto para dizer que ela tem um blogue novo onde vai falar de livros nas suas horas extraordinárias. Vai direitinho para a lista ao lado e fica aqui.
E ainda: a Rosário é, além de editora, escritora. Do Detective Maravilhas e, em parceria, do Clube das Chaves, que tenho a honra de editar neste momento na Pi. De um lindíssimo romance que editei nas Quasi. E de poesia, ah, de poesia. A Rosário é uma maravilhosa poeta. Bissexta, infelizmente, mas já com três livros que a confirmam como um dos nomes incontornáveis da poesia contemporânea portuguesa.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Flamingo


Li em rodapé, na SIC Notícias: encontrou-se o primeiro ninho de flamingos em Portugal. Confesso a minha ignorância: há flamingos em Portugal que nidifiquem? Onde, que eu não sei? Enfim, googlarei...

Mas lembrei-me logo de Stephen Jay Gould. Do seu "Flamingo's Smile" ou "O Sorriso do Flamingo", editado no final dos anos 80 na Gradiva. É lá que ele, por causa do sorriso invertido do flamingo, fala como sempre falou de Evolução. Mas é também lá que ele tenta mudar o nome de Némesis, a estrela companheira do Sol. Eu explico, sucintamente:

Os Alvarez, pai e filho (o primeiro, Walter, Nobel da Física) descobriram o que matou os dinossauros há 65 milhões de anos - um cometa que caiu onde é agora o Golfo do México. Foi a partir do irídio, nas rochas. Se quiserem saber, é só comprar "T-Rex - a Cratera da Destruição", editado pelo Luís Alves na Bizâncio.

Raup e Sepkoski a partir dessa descoberta fizeram uma análise estatística das extinções em massa na História da Terra. E perceberam que havia um padrão: a cada 26 milhões de anos ocorria um pico.

Mandaram o paper para Alvarez. Que não lhe ligou nenhuma. Mas um investigador da sua equipa, Richard Muller, ligou. E pensou o que raio poderia criar um ciclo de extinções com 26 milhões de anos. Postulou Némesis, uma estrela companheira do Sol que de 26 em 26 milhões de anos, com uma órbita elíptica, passava junto à Nuvem de Oort, atirando literalmente uma chuva de cometas para todas as direcções, nomeadamente para os planetas interiores do sistema solar.

Muller publicou o paper. Ao mesmo tempo dois outros investigadores postularam outras coisas, nomeadamente um Planeta X. Mas foi Némesis quem ficou na retina de todos.

Gould viu um pneu, como no artigo em que falava da Índia, onde a partir de pneus usados as crianças fazem chinelos e assim introduzia o conceito de exaptação.

E fez um artigo - depois reunido no livro citado - que queria mudar o nome de Némesis para Shiva. Porque Némesis é a deusa da destruição programada, e Shiva a da destruição aleatória. No seu mundo anti-determinista, Shiva fazia mais sentido.

A questão, claro, é saber se Raup e Sepkoski estão certos na sua análise estatística. Há quem diga que não - o que faz com tudo o que a seguir se postulou deixe de fazer sentido. E eu perguntei-lhes.

Duas vezes por email a Muller, que ainda hoje acredita que é esta a década em que se descobrirá Némesis (atentem a que descobrir uma anã branca, mesmo tão perto de nós, sem saber nada sobre a sua órbita que não seja o período, é como tentar encontrar uma agulha num palheiro - o céu é grande, já devem ter reparado).

Mas antes a Gould, caloiro que era, e da única vez que o encontrei: porque quis mudar o nome a uma coisa que não existe? E ele demonstrou porque era brilhante: "oh, I was so wrong", retorquiu.

As razões para o artigo, então, quais foram? Usar Némesis como um pneu? (Ele escrevia um artigo bem grandito por mês, talvez lhe faltasse às vezes assunto.) Mandar um abraço ao seu ex-aluno Sepkoski? (E aqui estamos na área da sociologia da ciência.) Querer acreditar que não há nada mais maravilhoso do que o sistema solar ser um sistema duplo. (E aqui estamos na área da psicologia da ciência.) Um dia gostava de estudar a resposta a estas perguntas.

Será que estava errado, afinal? Quero crer que não. Mas infelizmente acho que sim. Raup e Sepkoski nunca viram verdadeiramente provadas a sua periodicidade estatística. E Némesis ficou apenas no meio de um sorriso de um flamingo.

terça-feira, 11 de maio de 2010

O Luto


Aula Magna, sexta-feira, dia 7 de Maio. Entra em palco um homem já entradote, barriguinha à Benfica, óculos numa mão, cabelos brancos, um papel na outra. E diz: "não sei se leram - vejo que não - o papel à entrada. Mas Rufus Wainwright pede que por favor não aplaudam nem na sua entrada, nem durante o espectáculo, nem na sua saída - que também faz parte do espectáculo. Na tela será reproduzido um video de não sei quem (ele disse o nome, claro, eu é que não sei quem). Na segunda parte podem deitar a Aula Magna abaixo com aplausos."
E Rufus entrou. Com um vestido preto, meias de licra pretas, uma cauda que ficava estendida por todo o palco. No peito, aberto, folhos e folhos negros. Entrou em câmara lenta, pé ante pé. Sentou-se. E tocou o álbum novo, do início ao fim. Sem uma única falha, sem sequer saber que o estavam a ouvir e ver. Na tela um olho pintado de negro, muito negro, muito grande, abria e fechava e chorava. Depois mais olhos, negros, sempre negros, abriam, fechavam, choravam. Terminou. Saiu como entrou: pé ante pé, "devagar, devagarinho como a tua voz a adormecer o teu menino".
As palmas, finalmente.
As luzes acenderam para o intervalo. E eu disse: é um concerto sobre o luto. Ele está todo fodido com a morte da mãe. Já tínhamos reparado que não havia nenhuma referência à mãe no novo álbum, que ouvimos pouco. Mas ela está em todo ele. Nas músicas ao piano e à voz, barrocas. Há sempre vozes e vozes. Há uma voz numa mão do piano. Há outra voz noutra mão do piano. Há vozes que entram a meio destas, nas duas mãos. E depois há a voz que canta ainda outra coisa. Não são músicas fáceis, RFM, que entram no ouvido à primeira; nem à segunda; nem à terceira. Mas são geniais, percebi quando o ouvi tocar. E disse: que será a segunda parte? O Rufus que nós conhecemos a brincar sempre com o público?
Foi. Veio com lantejoulas e disse logo a abrir: "aqui estou eu, em mais uma desculpa para vestir collants". Tocou todas as músicas que eu queria, brincou com o Papa omnipresente em Lisboa, e com mais coisas ainda. Tocou "Poses", "Dinner at Eight", "Vibrate". Chegou-me.
Mas no fim, já todos contentes, disse: "agora quero falar da minha mãe". Disse que há uns dois anos, num dia solar, visitou um sítio de que não sabe o nome (era Belém, nós gritámos todos mas ele não queria saber, era só, como sempre, estilo), onde estava uma torre e uns homens a andar para o céu num padrão dito dos descobrimentos. E que com ela viu no chão o mundo inteiro. E que hoje, sexta-feira, foi lá sozinho e estava um dia muito escuro. E que a mãe já tinha navegado como os navegadores para outro sítio melhor. E disse: vou tocar esta música dela, que redescobri quando, com a minha irmã, comecei a encontrá-la em discos antigos. E tocou. Imagino-a muito fraca, folk de trazer por casa nos anos setenta. Mas os arranjos disseram que não, que era uma grande música. E foi.
Disse: ele está todo fodido com a morte da mãe. A segunda parte do concerto foi uma mentira. Ele dizia piadas mas chorava. E acabou o concerto como começou - e como tocou: em luto.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

terça-feira, 20 de abril de 2010

Um Produto Revolucionário

Autor amigo fez-me chegar este video, que tinha visto às gargalhadas no Jornal 2 de há dias. Tentei encontrá-lo na www, mas não consegui. Valem-nos sempre os autores, esses que depois permitem estes produtos tão revolucionários.



[Na RTP2, com legendes, era mais melhor bom; mas mesmo assim, é excelente.]

PS: Infelizmente, devido a HDs ou coisas assim que eu não sei nem nunca vou saber, só se vê uma parte do visor. Enfim... Fica aqui o link directo, mais simples:

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Bono por D. Clotilde

Este video é dedicado à Ana C, à Ana RS, ao Carlos, ao Hugo, à Magda, à Matilde, ao Nuno, ao Rui, ao Sebastião e ao Vasco, que sabem da importância deste senhor nas nossas vidas.

Mas antes vocês digam se não é verdade: esta música é perfeita. Tirando o segundo 25 do terceiro minuto, em que ele diz "sisters, brothers". Este gajo rimou "amor" com "dor" numa música perfeita. Não dava para manter o nível do resto do texto? Não que o nosso - tão nosso! tantos nosso! - Bono Vox seja Whitman, Auden ou Hughes - mas pelo menos não é (tirando o segundo 25 do terceiro minuto) a D. Clotilde Nóvoa, que, agora que está reformada e encontrou o amor depois de ter ficado para tia, percebeu que sempre foi no seu íntimo poeta toda a sua vida e editou o seu primeiro livro de poemas - eróticos, claro - de título "Amor de Irmão e de Coração" e cujo primeiro poema é:

Estive só com esta dor,
Só trabalhei com as mãos.
Chegou-me tarde o amor,
Minhas irmãs e irmãos.

Agora vou-me desforrar,
Com o meu amado brincar.
Vou ser feliz e dar as mãos
Como se fôssemos irmãs e irmãos.

Bono: tu leste a D. Clotilde, meu espertalhão!

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Música Fixe

Este post é dedicado. A quem, fica entre mim e o meu melhor amigo. É certo que ainda lhe faltam alguns, digamos, skills para verdadeiramente entender a dedicatória. Mas o que interessa é que ela cá está.

E, sendo tão dedicado, vale por dois. Temos Blur em Hide Park em 2009 (de que já falei uns posts abaixo - estou cansado, são uma e meia da matina, o link demora mais do que as palavras: façam lá scroll); e temos o video original, retirado do youtube também, mas nitidamente sacado à má fila da televisão. Agrada-me mais o pirateio de Hyde Park do que o video, que me parece extremamente datado. Além de que o Damon Albarn engordou uns quilitos, coisa que para quem aconteceu algo de semelhante (como eu...) só o enobrece. Como diz o outro: quinze anos "é muito tempo".

Mas a música, essa, é muito fixe, como diz o meu melhor amigo.







Partilho outra coisa, já que só são duas menos vinte: fui a Benidorm numa "visita de estudo" pelo liceu em 1992. Dantes Lorent del Mar (ou algo assim) chamava-se Benidorm e as viagens "de estudo", não de finalistas de merda nenhuma, que finalista é-se na faculdade: "finalista" - aquele que vai finalizar; o décimo segundo ano é só o meio do estudo, ora essa. Mas voltando aos Blur: e posso jurar quase a pé juntos que dancei esta música nas discónigthes de Benidorm. Será que em 92 já tinha saído como single? É que ela é só de 94, álbum "Parklife". Puta que pariu a memória.

Benidorm: aluguei uma vespa, andei como um trengo pelas escarpas com o cabelo e as borbulhas ao vento. E, sim, comi pela primeira vez no McDonalds. Foda-se, que eu estou velho.

[Acabei de reparar que o video "oficialmente" pirateado acaba antes do fim, o que quer que isto queira dizer. Há um video com a letra, que gostava de colocar a seguir. Mas não o faço: os inteligentes meteram uma caveira como fundo e esta música é a "música fixe". Pra puta que pariu as caveiras. Fica o video a acabar antes do fim, que os cabrões da EMI não me deixam colocar aqui o link. Já comprei os discos, ó tansos! Agora era só mesmo para digulvar, ó palermas. Inteligentes, esses gajos. Por isso é que negócio da música está de vento em "poupa". PS: o segundo está HD. Fodeu-se. Ide ao youtube e deixem-me ir dormir.]

domingo, 11 de abril de 2010

V de Vingança


A Relógio D'Água é uma editora muito boa, o que diz bem do que acho do trabalho do seu editor, Francisco Vale. E facto de me ter oferecido algumas palavras menos nobres em nada altera o meu juízo. Foi aqui.

Mas julgo importante dizer algo sobre um ou dois pontos desse post. Porque, o essencial sobre Um Toldo Vermelho está escrito na LER.

E nesse post julgo estar deduzido algo que não refiro na LER. Nomeadamente o "ressentimento" e "desejo de vingança" em relação aos autores ditos "sem qualidades". Saberá Francisco Vale que a vingança implica uma acto anterior sobre que vingar. E eu nada tenho contra esses autores que me traga qualquer ressentimento nem o desejo de repor qualquer injustiça. No fundo, nunca me fizeram nada de mal. Porque estaria eu ressentido ou ávido de vingança? Como se perceberá no texto, até os considero, e bem. Não sei de onde se depreende o contrário. Falar de genealogias literárias magoa alguém, dá a entender algum desejo de vingança? Mas haverá alguém - tirando Joaquim Manuel Magalhães, pelos vistos (com quem, já o disse publicamente, sempre tive uma relação cordial, se bem que unicamente via email; nada me move - nada, repito - contra a pessoa JMM; nem contra a sua poesia: apenas acho o livro mau e que ele não foi ao fundo na sua ruptura ao não considerar a ediçao ne varietur) - mas haverá alguém, dizia, que escreva sozinho, sem leituras, paternidades ou outros graus de parentesco? Acho que não.

Sobre o circo: António Guerreiro deu-me razão com o seu texto no Expresso. E já o expliquei aqui. Ou achar-se-á habitual considerar brilhante (são cinco estrelas, e se António Guerreiro quisesse não as colocava, que o Expresso não deve ter uma espada sobre a sua cabeça para que as coloque) um livro "sem sentido" (palavra que na sua duplicidade de leituras é bem pretensiosa na interpretação da obra) só porque descobre uma (má) forma de escrever poemas? Joaquim Manuel Magalhães nunca foi nem experimentalista nem concretista. É agora. Guerreiro nunca considerou minimamente essa poesia. Considera-a agora, não sem que antes a ligue àquela que sempre considerou com o contorcionismo crítico que tento explicar aqui.

Termino agradecendo o qualificativo com que Francisco Vale mima os "Poemas Portugueses": a antologia mais "bem comportada de poesia portuguesa". Sei-o pejorativo para Vale. Saiba-o ele elogioso para o trabalho tanto meu como do Rui Lage que, como lá dizemos, a quisemos exactamente o mais didáctica possível (sem com isso retirar outros critérios de que falamos na introdução). E na escola temos todos falta a vermelho se nos comportamos mal.

PS: Não sigam a referência ao filme, que de bom só tem a Natalie Portman. Leiam antes o novo livro do Miguel-Manso, muito bom. António Guerreiro faz-lhe uma boa crítica no Expresso de hoje. E eu, vejam bem, concordo com ele: temos poeta.

domingo, 4 de abril de 2010

O Circo Chen Chegou à Cidade!

Este é o parágrafo final do meu texto sobre Um Toldo Vermelho, publicado na LER deste mês e com o título Um Toldo às Escuras:

Estamos aqui na análise relativa de um texto, principalmente no que concerne ao outro JMM [Joaquim Manuel Magalhães] deixado à porta deste novo toldo, que já não parece servir a entrada de um café. A análise absoluta e devidamente encartada será feita por alguns críticos de hebdomadários - coisa que não sou, nem quero ser - que se irão dar ao trabalho de, seguindo uma agenda própria, executar números de contorcionismo analítico dignos do circo Chen.

And the winner is...

António Guerreiro! Luís Miguel Queirós, há semanas, não teve talento para tanto. Mas esta semana, Guerreiro leva para casa a taça! Vocês, meus caros apreciadores de poesia e, como eu, visitantes do hermetismo crítico semanal de Guerreiro, conhecem crítico mais próximo da poesia anti-concreta, anti-experimental e anti-substantiva? Eu não conheço. Mas li no Actual desta semana:

A operação comporta uma dimensão afirmativa (à qual não se acede se nos deixamos obnubilar ou fascinar pelo 'escândalo', algo inevitável num primeiro momento) (...)

Tradução: só o António Guerreiro consegue ultrapassar o escândalo e ler o livro como deve ser lido; todos nós, leitores de poesia que não percebem porque razão um poeta tão bom como o Joaquim Manuel Magalhães fez isto à sua obra, somos, em poucas palavras, seres meramente fascinados.

É bárbaro e resiste com tenacidade ao discurso do sentido? Pois é, respondemos nós, anestesiados pela beleza poética que nos decora o mundo e vida, embalados pela estética vogal e da eufonia. Tão imersa no concreto, esta poesia recusa as metáforas e as imagens, extenua-se a suprimi-las já que estas são um veículo do espírito (...)

Tradução: é certo que isto que o Joaquim Manuel Magalhães fez pode parecer algo, digamos, distante da poesia dos seus epígonos (e aqui volto a dizer, como no texto da LER, que falo em epígono enquanto seguidor de uma poética e não de uma forma pejorativa). Mas se vocês lerem bem, ela é só um bocadinho concreta. Porque de resto é igual: não há beleza poética (como na desses autores, povoada pelo feio), nem metáforas e imagens (como na desses autores, dita pobre).

"Pronto, meus caros: vale cinco estrelas e no fundo é muito próxima daquilo que eu mais gosto", diz António Guerreiro, o novo seguidor de E. M. de Melo e Castro e Haroldo de Campos. Quer dizer, mais ou menos, porque estes são concretos mas são bonitinhos e muito metafóricos...

quarta-feira, 31 de março de 2010

Não perder os três na LER!


Amanhã estará nas bancas a nova LER. Convido-vos a não perderem os três na LER. Além da crónica habitual, desta vez sobre Salazar, Pinto da Costa, José Régio e Vitor Paneira, há um direito de resposta que julgo repor alguma verdade num assunto que eu já considerava encerrado há anos e um ensaio ou uma crítica ou assim - olha eu ensaísta, crítico ou assim! - sobre o novo livro de Joaquim Manuel Magalhães: Um Toldo Vermelho; que eu, a preto e branco, digo ser Um Toldo às Escuras.

Matt

Onde anda o Matt? Ou melhor - onde andava.

[Adenda: acabei de descobrir que videos HD chapéu nesta Rua. Podem ver o Matt, mas só a dois terços, que o outro terço só mesmo rezando no youtube. Ide lá mas venham pela sombrinha. O que eu quero mesmo dizer está no fim, e faz sentido depois de visto em condições o segundo video.]

A história conta-se rapidamente: um rapaz que há uns anos resolveu viajar pelo mundo. Um amigo que a certa altura lhe disse faz lá a tua dança estúpida para eu gravar. A ideia de fazer a dança estúpida em todo o lado. Um video no youtube, um apoio de uma empresa, e a dança estúpida em todo o lado. Esta:



Anos depois, nova ideia: muitos emails recebidos das cidades onde dançou estupidamente e porque não chamá-los para gravarem todos novo video? Desta vez, ele e muito mais gente. Aqui:



Coloco-o na Rua da Castela não só pela dança estúpida. Nem pelo facto de ao segundo 53 aparecer o Terreiro do Paço (parem lá a imagem, ora vejam). Não. Coloco-o porque este video é um dos maiores hinos que conheço à raça humana. A este animal que tem em si tanto de único como de universal. As pessoas riem. Os miúdos saltam. Toda a gente dança estupidamente. E o Matt, no meio, sorridente por saber que está a permitir um abraço entre todos os povos deste planeta. A globalização não é só o G7, 8 ou 23. A globalização também pode ser isto.

terça-feira, 30 de março de 2010

Blur

É tão bom quando as coisas encerram como devem. É bom que as coisas nasçam, cresçam e acabem. Não digo que morram, que dói mais - mas que acabem.

Os Blur sempre foram bem melhores do que os Oasis. Em 1995, no auge do britpop e da guerra dos irmãos Gala não sei quê com os Blur, eu torcia por Damon Albarn e os três compinchas. Damon é um artista a sério, não é uma prima donna como qualquer um dos irmãos Gala não sei quê. Não que estes não tenham feito coisas jeitosas, que fizeram. Basta ouvir Don't Look Back in Anger para confirmar. Mas pouco mais do que isso.

Os Blur têm muito mais. Têm To the End. Têm Parklife. Têm Tender. Têm Country House. Têm Girls and Boys. Têm Bettlebum. Têm Song 2. E têm este The Universal, com que encerraram o concerto de Hide Park, no Verão passado. Depois de muita dor na separação, a reunião confirmada para a separação amigável e mais certa. Um concerto memorável, ou assim mo mostra o DVD. Ou assim o lembro em 1997, Zambujeira do Mar. Estive lá e respirei bem aquele pó ao som da Song 2.

Fiquem com o video da The Universal. Grande canção, esta. [Infelizmente com publicidade. Lamento, não consigo tirar esta, digamos, merda.]

domingo, 28 de março de 2010

Otelo, o Primeiro Homem da Luta

O que me agrada na Assírio é a sua imperfeição: uma editora é um cadáver surrealista, esquisito, cesariano. A Assírio não foi sempre a casa da poesia. A Assírio começou muito diferente. E de quando em vez surgem numa ou outra feira - desta vez por um euro na estação Oriente - exemplos de um começo tão pouco literário. Uma editora faz-se da soma dos erros que um editor toma. E, esperamos todos, ainda mais da soma dos acertos. Otelo Saraiva de Carvalho ao lado de Herberto Helder? Agrada-me. Quatro anos de diferença entre o primeiro "homem da luta" e A Cabeça Entre as Mãos. De quem gostamos mais? A capa, em cima, já é um bom pedaço de poesia...

Bolonha


Aprende-se muito nas viagens, descobri. Dantes achava que nas viagens só se aprendia o que os livros que levávamos permitiam.

Esta viagem foi diferente. Tão cansativa. Mas ao mesmo tempo, não sei bem porquê, reveladora. Nomeadamente de algumas coisas que me parecem importantes de referir. Assim:

- Em Bolonha come-se muita massa. Espanto maior é, existindo o petisco, não existir o nome "massa à bolonhesa".

- Em Bolonha a polícia quando precisa de andar mais rápido usa o Lamborghini que tem na esquadra.

- Em Bolonha a maior parte dos polícias andam de Ducati.

- Em Bolonha não hás revisores nos STCP / Carris lá do sítio. E não há tanto que ninguém paga bilhete nos autocarros.

- Em Bolonha um dos mais interessantes insultos a um jogador (ouvi-o bem alto, atrás de mim, a um jogador do Roma) é "extra-comunitário".

- Em Bolonha, por debaixo da biblioteca pública, há ruínas romanas (bem, bolonhesas, convenhamos). Nelas, um dos caminhos vai dar, em linha recta, directamente a Roma. Por alguma coisa "todos os caminhos vão dar a Roma".

- Em Bolonha descobri que os irmãos Koala não existem na televisão australiana. Na Austrália, basicamente, ninguém sabe quem é que são o Franco e o Beto.

domingo, 7 de março de 2010

Depois de ler "Um Toldo Vermelho"


The Cranberries

Tocam na quarta-feira no Campo Pequeno. Dizem-me que com a formação inicial. Nunca gostei da moçoila, sempre a achei antipática q. b.. Mas gosto do Eveybody Else is Doing it, so Why Can't We? (de 1993 e que tem Linger) e do No Need to Argue (de 94 e que tem muitas boas músicas, nomeadamente Twenty One). Depois há um ou dois singles relativamente interessantes. Porque os álbuns, sinceramente, não os conheço. Fica primeiro a citada Twenty One e depois um poema com o mesmo título da Teoria dos Conjuntos. Irei ao Campo Pequeno voltar a ter dezassete anos.



The Cranberries
[Twenty One]

Ao André

O Rambo encostado ao balcão da kitchnet, mil novecentos e noventa
e quatro. O Jonas sonhava com a Sandrina e o André guardava as laranjas
no saco para que pudéssemos, na tarde seguinte, fazer nova pontaria
às gaivotas que planavam junto ao sexto andar da casa da Alexandre
Herculano – e o Douro, em baixo, amparando a Serra do Pilar.

Vinte e um, Jorge, mal sabes tu o que é ter vinte e um anos. Eu não sabia.
O Rambo dizia da velhice como se a morte lhe estivesse já tão perto e a mim
e ao André só restasse esperar. Em mil novecentos e noventa e quatro
tínhamos ambos dezassete anos. Ele já tinha feito vinte e um, a música

dos Cranberries soava a um futuro distante. Passaram mais de dez anos.
As gaivotas continuam a planar sobre o Douro, a Serra do Pilar amparada
pelas águas, mas as laranjas acabaram quando mudamos de casa. O Jonas
esqueceu a Sandrina. O Rambo terá agora bem mais de trinta anos. E os
Cranberries soam à adolescência roubada pelo tempo – vinte e um, vinte e um,

vinte e um.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Joaquim


Pela primeira vez, aqui deixo um link para uma crónica que escrevi noutro sítio. Neste caso no Pnet Literatura.

Isto porque me parece importante que falemos da questão joaquimanuelmagalhiana. É questão estranha. Colocarei para já o link. Conto voltar ao assunto, seja no Pnet, seja aqui, em breve. Quando tiver o livro, coisa que ainda não acontece.

O link da "Revolução!".

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Rio Sabor


Quem me conhece sabe do meu desinteresse pelas coisas que obrigam a levantar às seis da manhã para que façamos caminhadas saudáveis. Tentei, juro que tentei, tal coisa na faculdade e, além de ter perdido uns calções de estimação, quase me afogava num riacho qualquer a dar uma de canoista (daí a perda dos calções, daqueles compridos, ficados e para sempre a secar ao sol).

Some-se a isto a catástrofe que a metereologia tem trazido e perceber-se-á que o que vou dizer de seguida pode até ter algum sentido.

Acho que o Homem é um predador. Que encontrou uma maneira interessante de sobreviver como espécie - a tecnologia - que permite que as condições de vida dos seus espécimens sejam bem mais interessantes do que as dos outros predadores. Conforto, portanto. Preguiça. Estar sentado num puff a escrever um post num blogue enquanto vejo a nova temporada do Project Runway, depois de um banho bem quente e vestido de um pijama aconchegante. E que tudo isto não traz nada de mal. Nada. Ou o que traz, compensa. Pois, estamos a estragar o Ambiente, a Terra, os outros animais. Que pena. Nenhuma. A Vida é assim, e já antes os dinossauros estragaram muita coisa e nem cozinhavam antes.

Ou as glaciações; ou a deriva dos continentes no Pérmico que fez com que 95% da vida da Terra desaparecesse à 220 milhões de anos. Ou o cometa que aterrou com estrondo no Golfo do México há 65 milhões de anos e terminou com o apetite tártaro do T-Rex.

Mas posto isto, também não acho que seja preciso ser mauzinho. Parece que há um único rio na península Ibérica que ainda não teve estragos de maior às nossas mãos. E que ainda para mais se chama Sabor. E se o deixassem "sugadinho"? É mesmo preciso o raio da barragem? Não seria de fazer mais uma noutro já devidamente estragado e deixar este a correr como sempre correu?

Não que isto seja assim tão importante, convenhamos. Daqui a umas décadas a adolescência tecnológica terminará como terminam muitas: com uma passagem para a idade adulta devidamente marcada por esse período de borbulhas e camisas estampadas, muita coisa para tratar no psicanalista. Quero com isto dizer que não, que não vamos desaparecer. Que não, que a Terra não vai acabar. Só vamos é deixar de ser 6 biliões para sermos uns milhares ou poucos milhões em bolsas de sobreviventes. E que a Terra, essa, rir-se-á de nós tornando os rios entretanto barrados em novos e magníficos paraísos de selvajaria ou, digamos assim, natureza secundária e novamente virgem.

Até lá, deixem o Sabor em paz; divirtam-se mas não sejam mauzinhos, por favor.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Maria Taylor

Só tenho pena de uma coisa: que o Michael Stipe cante tão pouco no single de um álbum que primeiro se estranha e que depois se entranha; e que tenha deixado que assassinassem a Everybody Hurts, mesmo que o produto da autópsia seja a favor do Haiti. Bem, são duas coisas. Mas que podiam ter escolhido outra música para homicidiar, podiam. Aquela é do Automatic for the People. Aquela tem perto a Nightswimming. Aquela tem perto a Drive. Aquela tem perto a Try Not to Breath. Aquela tem perto a Find the River. Aquela tem o Michael Stipe em cima dos carros como o Michael Douglas naquele filme que primeiro se estranha e depois se entranha (Falling Down, 1993; ou Um Dia de Raiva em português, acho). Fiquem com o videoclip de Cartoons and Forever Plants, álbum Lady Luck, Maria Taylor ou a ex-namorada do Connor Oberst.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Perry Blake

Celebrando o seu concerto em Santa Maria da Feira, dia 26, e a nova exposição de Paulo Brody, desta vez em Ventspils, fica aqui Folks Don't Know.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Todos os Dias



Escrevi o romance entre 2002 e 2004. Saiu na Dom Quixote, pela mão do João Rodrigues, faz agora exactamente quatro anos. A capa, do Atelier Henrique Cayatte com a Rita Múrias, tinha uma fotografia de Stuart Staples, o vocalista dos Tindersticks. Foi apresentado na Casa das Artes de Famalicão pelo António José Teixeira.

Escrevi-o como se de um projecto de arquitectura se tratasse. Cada voz sabia o tinha de dizer e como dizê-lo. Sentava-me, abria o ficheiro, colocava a banda sonora inicial. Esta que podem ver e ouvir em cima.

Todos os dias acordo com o Manel deixando o André à guarda da minha Lucinda.

É certo que depois o Manel ficou Fernando, o André, Rafael e a Lucinda, Justina. Mas já existiam todos na primeira frase, escrita também em Fevereiro, mas de 2002. Há oito anos. Time flies, se não for mais é o título de um álbum dos Vaya con Dios.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Rosa


Tenho a certeza que o meu melhor professor, Jorge Macedo Rocha, não se importará que aqui cite um poema - sim, professor, é um lindíssimo poema - que escreveu para o livro A Minha Palavra Favorita e que organizei há alguns anos. Tinha por este senhora um carinho muito especial. Sempre encantadora, profissionalíssima nos projectos que fizemos juntos (um romance escrito em tempo recorde para ser oferecido com a Sábado, depois editado para a livraria; duas adaptações maravilhosas para os Clássicos da Literatura Portuguesa Contados às Crianças do semanário Sol), belíssima de alma e olhar, querida de se querer. Fará falta.


Rosa era o nome da minha avó. Branca Rosa. Ainda hoje ouço a sua voz atravessar o quintal para me cobrir com alegria e infância; e sinto o seu olhar tranquilo, cheio de bondade e força, que desaguou inteiro no sorriso da minha mãe. É verdade: o importante é a Rosa. A Rosa é que é importante.


Hoje, professor, permita-me que esta Rosa tenha mais dois nomes: Lobato de Faria.

domingo, 31 de janeiro de 2010

Todos os Dias


FADE IN:

INT. QUARTO DE AUGUSTO - NOITE

AUGUSTO está deitado na cama, seu leito de morte, muito magro, pálido e em sofrimento. Vem definhando progressivamente devido a um cancro.
Na cabeceira da cama está a sua avó CACILDA, afagando-lhe a testa.

CACILDA
Como te disse, o JANELA pregou-lhe duas estaladas – e tu bem sabes como ele é a calma em pessoa – e o rapaz fugiu para nunca mais voltar, parece-me. Devias ter visto o Putzi atrás dele a ladrar.

AUGUSTO sorri penosamente.
Ouve-se o som de dois toques na porta do quarto, onde está MANUELA, cunhada de AUGUSTO, com um sorriso triste

MANUELA
Posso?

AUGUSTO tenta retirar o braço de debaixo dos lençóis, dando-lhe sinal para que entre.

CACILDA
Eu volto mais logo.

CACILDA levanta-se, beija AUGUSTO na testa e sai.

MANUELA aproxima-se da cabeceira da cama. Senta-se na cadeira onde estava CACILDA.

MANUELA
Como estás?

AUGUSTO encolhe um pouco os ombros. Tira finalmente a mão de debaixo dos lençóis. Toca-lhe nos cabelos, pede-lhe que aproxime da sua boca com o ouvido.

MANUELA
Diz.

AUGUSTO
Eu amo-te.

MANUELA sobressalta-se um pouco, afasta-se levemente de AUGUSTO. Já mais calma, como se essas palavras fossem as esperadas, afaga-lhe o cabelo. Tem um misto de ternura, pena e distância no olhar.

MANUELA
Amar é bom, meu querido.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Haiti [2]


Às vezes - e muitas vezes, infelizmente - uma imagem vale mais do que mil palavras. Esta é a capa da acção que a Fundação José Saramago, juntamente com a Leya e um sem número de parceiros (desde o fabricante de papel até aos retalhistas), está a colocar em prática para ajudar o povo do Haiti. Não tenho palavras que a definam.

domingo, 24 de janeiro de 2010

Outro Ele

No meio da praça há um leão sobre uma águia. Celebra a vitória do meu povo sobre as invasões francesas, o regresso do rei depois de ter perdido, não dois, mas apenas um país. Hei-de ir a Nelas estabelecer outra provincía ultramarina, passamos o Douro e sabemos atravessado o maior dos mares. Há-de haver um fim para novo achamento. E o leão – mais do que a vitória por 7 a 1 do meu Sporting (não é isso que todos querem lembrar?) – representará o sossego de um país com um nome de terra mais que perfeito.

sábado, 23 de janeiro de 2010

Ele

Dizem chove sempre a norte do cabo Carvoeiro, a neve só nas terras altas. Moro ao nível do mar, e no entanto a espuma é longe demais para molhar os pés no meio do sargaço. Nunca neva nas terras mais baixas. E chove sempre no Norte, onde espalho notícias de um sol ainda mais distante. Tenho quase quarenta anos e nenhuma luz. Não há quem me brilhe ou faça brilhar, visto roupas escuras até no verão. Limito-me a arrefecer os raios na minha pele sempre fria. Aquecer é coisa que deixo para as mulheres modernas que habitam à vez o meu T1. Basta-me viver, se soubesse para onde, aí sim, fugia.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Sextante


A notícia já circulava há algumas semanas nos, ditos, meios editoriais: a Sextante iria fazer parte da Porto Editora, dando esta última o primeiro passo na aquisição de uma outra empresa. Editei com o João Rodrigues o Terra, editei com a Porto Editora os Poemas Portugueses. Com ambos aprendi muito do que é editar bem um livro. Fico feliz quando dois editores meus se juntam: o João e o Manuel Alberto Valente sob a batuta de uma pessoa que aprendi a admirar pelo seu saber e competência: Vasco Teixeira. Esperemos que a Sextante continue o seu caminho de consolidação e que a Porto Editora ganhe com a entrada nos seus quadros de uma pessoa com a experiência no mundo da edição como o João Rodrigues. Para os três - assim como para as duas delegações do Porto com quem já trabalhei (a literária e a escolar) - o meu maior abraço.
[Em cima, a capa de Terra, do Atelier Henrique Cayatte.]

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Haiti


Tenho feito como o Eugénio de Andrade num dos poemas da antologia - lido apenas o Público ao domingo (falta-me o gato). Mas hoje, enquanto tomava o pequeno-almoço, consegui ler o destaque sobre o Haiti. Não sei se entretanto os números se actualizaram, mas falava-se lá de mais de 100 000 mortos. E numa das colunas, os últimos tremores de terra: de dois em dois anos há um que mata não menos de 5 000 pessoas (até números como o daquele que provocou o tsunami, onde faleceram 260 000).
Nada se pode dizer que não pareça já ter sido pensado. A palavra escrita não serve. É gente, filhos, pais, irmãos. Aqueles que ficam - porque os outros já não sofrem.
Ontem, quando ao fim da noite soube da notícia, fui reler a parte referente à ilha de Hispaniola no livro Colapso de Jared Diamond. É um magistral ensaio sobre o não determinismo ambiental, esse. A pergunta é evidente: porque é que o Haiti, na parte oeste da ilha, é tão mais pobre do que a República Dominicana, na parte este? São muitas as razões, todas parecendo concomitantes para um país inviável. Deter-me-ei de as citar aqui, não sabia como resumir tantas páginas de puro génio (uma das minhas dores, entre tantas, é a tradução de "O Terceiro Chimpanzé", insolvente nas Quasi). Mas a verdade é que os haitianos não mereciam. Ninguém merecia. E não me falem de Deus. Ou de deus. Senti repulsa física quando ontem na SICN vi o relato de um missionário dizendo da tragédia: depois de uma introdução certa, de uma passagem pelos cânticos das pessoas correcta, disse que Deus terá desígnios para esta tragédia. Se os tem, eu não os entendo. Mas deve ser meu o problema, só pode.
Colapso, editado na Gradiva e da autoria de Jared Diamond: um livro a todos os níveis admirável.
[Em cima, os moai, que dão capa ao livro e continuam de pé na ilha da Páscoa, depois do seu colapso]

Cá de baixo