sábado, 19 de junho de 2010

E agora, José

Várias razões me não têm permitido ser mais assíduo na colocação de posts. Ao ponto de o que dizia respeito à selecção ter perdido actualidade sem outro que o completasse. Completo agora: gostei do que disse Deco e muito do que disse ontem Queiroz. Podemos vir na mesma para casa, mas pelo menos vimos, digamos, normalmente. Ao contrário da França, por exemplo.


Mas Saramago. O reconhecimento foi em vida. Os livros foram lidos em vida. Foram publicados em mais do que muitas línguas em vida. Ontem o Público dizia online dos prémios: contei quarenta doutoramentos honoris causa, ao mesmo tempo que o ouvia na televisão numa entrevista antiga dizer que se Cavaco é doutorado honoris causa em Literatura pela Universidade de Goa, ele pode vir a ser em Medicina e fica tudo certo. Para comparar basta saber quem era Saramago no mundo e quem é Cavaco ou outra figura portuguesa. Saramago, Amália, Eusébio (se quisermos ser simpáticos...) e nada mais, convenhamos.


Mas e agora? Agora Soares mais uma vez cheio de razão: Saramago merece o Panteão Nacional. As suas cinzas ficam em Portugal, mudou de opinião depois de ter declarado publicamente que as queria junto a uma árvore em Lanzarote. Fez portanto as pazes com o país que o obrigou a ir embora. É altura de Portugal fazer as pazes com ele.


Saramago era uma pessoa de ódios e de amores. Não foi santo nenhum, como se viu no PREC. Mas isso não invalida que seja, só, o escritor português mais conhecido no mundo. Vivo ou morto, para que não restem dúvida. Como ele, nenhum. E o Panteão não deve ter santos - esses ficam nas igrejas. O Panteão deve ter isso sim aqueles que souberam fazer de Portugal mais do que o rectângulo plantado no extremo ocidental da Europa. Saramago soube porque sabia escrever como muito poucos. Uma lição.

Ao seu comunismo militante e às vezes tão incoerente; à sua personalidade que se poderia considerar vaidosa - mas com razões para tal - digo nada. Interessa-me verdadeiramente a Obra. E essa, quer se queira quer não, é das maiores de sempre em língua portuguesa.
E agora, José? Agora ler.

Fará falta.