quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Haiti


Tenho feito como o Eugénio de Andrade num dos poemas da antologia - lido apenas o Público ao domingo (falta-me o gato). Mas hoje, enquanto tomava o pequeno-almoço, consegui ler o destaque sobre o Haiti. Não sei se entretanto os números se actualizaram, mas falava-se lá de mais de 100 000 mortos. E numa das colunas, os últimos tremores de terra: de dois em dois anos há um que mata não menos de 5 000 pessoas (até números como o daquele que provocou o tsunami, onde faleceram 260 000).
Nada se pode dizer que não pareça já ter sido pensado. A palavra escrita não serve. É gente, filhos, pais, irmãos. Aqueles que ficam - porque os outros já não sofrem.
Ontem, quando ao fim da noite soube da notícia, fui reler a parte referente à ilha de Hispaniola no livro Colapso de Jared Diamond. É um magistral ensaio sobre o não determinismo ambiental, esse. A pergunta é evidente: porque é que o Haiti, na parte oeste da ilha, é tão mais pobre do que a República Dominicana, na parte este? São muitas as razões, todas parecendo concomitantes para um país inviável. Deter-me-ei de as citar aqui, não sabia como resumir tantas páginas de puro génio (uma das minhas dores, entre tantas, é a tradução de "O Terceiro Chimpanzé", insolvente nas Quasi). Mas a verdade é que os haitianos não mereciam. Ninguém merecia. E não me falem de Deus. Ou de deus. Senti repulsa física quando ontem na SICN vi o relato de um missionário dizendo da tragédia: depois de uma introdução certa, de uma passagem pelos cânticos das pessoas correcta, disse que Deus terá desígnios para esta tragédia. Se os tem, eu não os entendo. Mas deve ser meu o problema, só pode.
Colapso, editado na Gradiva e da autoria de Jared Diamond: um livro a todos os níveis admirável.
[Em cima, os moai, que dão capa ao livro e continuam de pé na ilha da Páscoa, depois do seu colapso]